As 252 páginas do álbum Pinacoderal: Rudimentos da Linguagem reúnem em um única edição os primeiros experimentos impressos de Diego Gerlach com a linguagem das histórias em quadrinhos. As 19 histórias presentes na coletânea lançada pelo selo Pé-de-Cabra foram originalmente publicadas entre 2009 e 2016 em antologias nacionais e internacionais e em títulos independentes do autor, além de uma obra inédita, todas ambientadas na cidade fictícia de Pinacoderal.
“O objetivo toda vez que sentava para criar uma HQ dessas era de fato caminhar por outro lugar, por uma cidade e uma realidade com regras próprias, que descobriria mais ou menos no mesmo ritmo que a pessoa que lê”, afirma Gerlach em conversa com o blog sobre essas primeiras empreitadas em quadrinhos impressas na coletânea.
As histórias de Pinacoderal são protagonizadas por figuras suspeitas como Boy Rochedo, Verloch, Caranguejêra, Vingax e Zuêro em tramas girando ao redor da realidade hostil e imunda de Pinacoderal. São histórias que soam como um prólogo do trabalho atual de Gerlach, editor do selo Vibe Tronxa Comix e responsáveis por obras como a série Know-Haole e NÓIA: Uma História de Vingança (Escória Comix).
Pinacoderal é um imenso serviço prestado pelo selo Pé-de-Cabra aos leitores interessados na formação e na história de um dos principais nomes da vanguarda dos quadrinhos nacionais. O projeto gráfico assinado pelo também quadrinista Pedro Franz só corrobora a singularidade do projeto.
Na conversa a seguir, Diego Gerlach lembra a origem das histórias ambientada em Pinacoderal, fala sobre a produção da coletânea reunindo esses quadrinhos, comenta a dinâmica de seu trabalho com Pedro Franz, trata da relação de suas histórias com o ambiente urbano e exalta a curadoria dos selos Pé-de-Cabra e Escória Comix – “Idealmente, eles se tornariam um tipo de referência, pois o mercado e as grandes editoras estão totalmente fora de sintonia com a produção nacional”, diz o autor. Papo ótimo. Saca só:
“Com um atraso de meros sete anos, chegamos ao livro”
No posfácio de Pinacoderal: Fragmentos de Linguagem você comenta como já tinha passado um pdf reunindo esse mesmo material para outros editores e que não teve nenhum retorno. O plano de publicar essa coletânea é antigo? Como ele ganha forma? Como o Panhoca e a Pé-de-Cabra entram na história?
Em 2011, anunciei no meu Flickr que no ano seguinte Pinacoderal seria publicado, sem maiores detalhes. Na época, a ideia era compilar os zines originais (mais algumas histórias que já estavam prontas) num livro. Nem lembro como achava que iria financiar essa empreitada, provavelmente financiamento coletivo. Na época, acreditava que em pouco tempo lançaria a quinta edição de Pinacoderal (o zine) e teria uma história fechada. Mal sabia eu que, devido a N fatores (os principais sendo minha inexperiência e o desejo de brincar com novos personagens), essa história (iniciada em Pinacoderal 3 e continuada no 4) nunca seria concluída. Aí a ideia de compilar tudo começou a ficar mais disforme: com algumas histórias incompletas, na minha cabeça o fluxograma ficava zoado. E, quanto mais produzia, mais difícil se tornava a ideia de publicar o material de maneira independente, pois os custos de impressão e distribuição também cresceriam. Foi só por volta de 2017, quando parei pra somar o número de páginas que já tinha publicado que percebi que poderia tranquilamente remover as HQs que não tinham sido concluídas e ainda assim ter em mãos uma publicação substancial. Foi isso que fiz. Com um atraso de meros sete anos, chegamos ao livro.
O Panhoca foi na verdade a primeira pessoa a me abordar a respeito da publicação do Pinacoderal. Já éramos amigos fazia algum tempo, mas ele ainda não tinha feito nada como editor, e sabia que editar esse treco seria casca-grossa, eu mesmo não sabia muito bem por onde começar, e aí acabou que deixamos a coisa de lado. O material passou na mão de duas outras editoras, que a princípio mostaram interesse (com base na minha descrição do material), mas que quando se depararam com a coisa em si, como disse, não emitiram qualquer parecer. Você nunca sabe por que, exatamente, um editor não responde. Pela minha experiência, em 90% dos casos tem a ver com alguma mudança súbita nos planos editorias, instabilidade do mercado, correria insana, uma combinação de todos esses fatores, etc. Mas, como esse material tem lá sua dose de esquisitice, rolou um questionamento interno, do tipo “Será que é totalmente incompreensível?”. Ano passado o Panhoca expressou de novo desejo de publicar algo meu. Com a Revista Pé-de-Cabra já consolidada como uma iniciativa editorial, selamos com um aperto de mão a parceria (na Bienal de Curitiba do ano passado) e começamos a trocar ideia sobre como de fato seria o rolê. Como menciono no posfácio, a insistência do Panhoca foi fundamental.
“Pessoas que acompanhavam com relativa proximidade minha produção ficaram surpresas ao descobrir que todas essas histórias fazem parte de uma mesma realidade”
E como foi o trabalho de edição desse projeto? Ou melhor: o livro que vocês estão publicando é muito diferente/parecido com aquilo que você tinha em mente pra essa coletânea? O Pedro Franz é creditado como responsável pelo projeto gráfico do livro. Por que chamá-lo? Como foi a dinâmica entre ele, você e o Panhoca?
Foi quando Pedro Franz topou fazer o projeto gráfico que eu e Panhoca começamos a botar fé que a coisa ia acontecer de fato. A ideia de convidar ele foi minha, porque gosto muito do trampo dele como designer e porque já colaboramos em diversos projetos, rola uma comunicação meio telepática. Ele definiu todo o aspecto da edição (incluindo a ordem das histórias) com um ou outro pitaco meu e do Panhoca (que ficou encarregado mais de nos colocar rédeas, organizar a logística com a gráfica e evitar que tivéssemos algum rompante faraônico que inviabilizasse a empreitada). Os protótipos chegavam e meu único trabalho era ficar mais e mais empolgado. Ainda não vi o livro pronto, mas o projeto gráfico ficou 112% do meu agrado.
Como você definiu o que entraria e o que ficaria de fora dessa coletânea Nem todo material ambientado no Universo Pinacoderal está impresso nessa edição, certo?
A maioria do material já estava definido, normalmente tenho claro na minha cabeça se determinada história pertence a um universo específico (bom, não no começo, mas logo a coisa se define). A única questão eram algumas histórias que não tinham sido fechadas, como mencionei. Mas teve coisas (imagens e detalhes) usados na edição do livro que teria esquecido se o Franz não tivesse perguntado ‘Ei, isso não é Pinaco também?’. Produzi muita coisa, entre HQs e desenhos avulsos focados nesses personagens. Tenho certeza que alguma coisa ficou de fora. Por outro lado, foi trocando ideia com o Franz que entendi que, ao mesmo tempo que era uma edição que se pretendia bastante completa, tinha que traçar uma linha na areia e deixar algumas coisas de fora pra dar coesão ao material. Pessoas que acompanhavam com relativa proximidade minha produção ficaram surpresas ao descobrir que todas essas histórias (acho que quase ninguém leu tooodas em conjunto) fazem parte de uma mesma realidade.
“Pinacoderal é um mistério para mim”
Eu quero saber sobre os seus sentimentos enquanto trabalhava nessa coletânea. Quais reflexões e balanços você fez em relação ao seu trabalho? Tem algum aspecto específico dessa sua produção que te interessa mais?
É super estranho ver o material todo reunido, pois lido assim ele assume nova forma, um contexto próprio. Rola uma repetição de símbolos e elementos narrativos que vão dando estofo a um universo, mas vão também revelando obsessões e cacoetes por trás de quem faz, o que é um pouco desconcertante de se ler num primeiro momento. Passa um slideshow monumental na minha cabeça dos diversos lugares em que produzi essas histórias, situações, pessoas, momentos pontuais. Por mais que tente explicar, tem coisas do meu trabalho que são um mistério pra mim também, que só consigo ter alguma ideia do que estava querendo dizer ou fazer olhando de modo retrospectivo. E Pinacoderal é um dos maiores exemplo disso dentro de tudo que fiz: o objetivo toda vez que sentava para criar uma HQ dessas era de fato caminhar por outro lugar, por uma cidade e uma realidade com regras próprias, que descobriria mais ou menos no mesmo ritmo que a pessoa que lê. Pinacoderal é um mistério pra mim também.
“Uma verdadeira suruba em termos estéticos”
Essa coletânea da Pinacoderal reúne trabalhos publicados em um intervalo de sete anos. O quanto as suas técnicas mudaram durante esse período? Há o predomínio de alguma técnica específica nos trabalhos impressos nesse livro?
As técnicas foram se adaptando, e o material do livro é uma verdadeira suruba em termos estéticos. Essas histórias têm todas o embrião de algo que mais adiante utilizei bastante. As primeiras HQs eram finalizadas com aguadas de nanquim (o tipo de finalização que usei também em Ano do Bumerangue), algo que aos poucos fui deixando de fazer, conforme aprendia a usar retículas para tonalizar. Tem também histórias desenhadas sem tinta, ou em lápis, ou de modo inteiramente digital. Mesmo as páginas coloridas foram experiências bem novas na época.
Quando eu te entrevistei pela primeira vez, em 2015, você falou do impacto que teve na sua produção a conclusão de que o que mais te interessa no desenho “é a necessidade de desenvolver um vocabulário gráfico próprio”. Eu li o Pinacoderal e fiquei com a impressão que as HQs mais antigas são exatamente desse período em que você busca fugir daquilo que você chama nessa entrevista de “estilos, digamos, não canônicos”. É isso mesmo? Essas histórias mais antigas da Pinacoderal são uma espécie de prólogo para o que veio a ser o seu estilo atual?
De certa forma, é um prólogo, embora na época não parecesse. É um dos motivos do subtítulo (Rudimentos da Linguagem), o fato de que estava começando a aprender um vocabulário de quadrinhos possível. Com as primeiras histórias, independente de quão pouco aprimorado e incongruente o desenho fosse, sentia uma energia imensa por finalmente ter rompido uma barreira imaginária e estar fazendo quadrinhos. O estilo era necessariamente ‘não-canônico’ (a.k.a. ‘ruinzera’) pela minha falta de prática e pelo fato de estar tentando produzir HQs sem, naquele momento específico, pensar na história dos quadrinhos, ou em como eu mesmo presumia que quadrinhos deveriam ser feitos.
“Pra mim é muito rara aquela sensação de ‘sei perfeitamente o que estou fazendo’, normalmente é o contrário disso”
Nessa mesma entrevista você também fala da sua busca por uma “delimitação de possibilidades” para que você não fique eternamente preso à prancheta. Novamente comparando esses trabalhos mais antigos com a sua produção mais recente, eu fico com a impressão que você tem buscado um traço cada vez mais objetivo e narrativas cada vez mais lineares. Faz sentido essa interpretação?
Não sei… Quando olho pra trás, questiono coisas que falei o tempo todo e me mando um ‘Calaboca moleque’ mental com frequência. Essa afirmação em particular… Faz parecer que tenho total controle sobre as ferramentas que vou usar numa história, o que quase nunca é o caso. Já ocorreu de começar uma HQ digitalmente e sentir que não era o correto pra ocasião, e reiniciar tudo no papel. Pra mim é muito rara aquela sensação de ‘sei perfeitamente o que estou fazendo’, normalmente é o contrário disso. Pra criar uma história, minha estratégia é sempre ‘ir criando’, o que mostra que é sempre um método empírico, de construção, tentativa e erro, e o mesmo pode ser dito da técnica, e de como isso influencia o resultado. Acho que muito do meu estado emocional se reflete nas histórias, às vezes consigo ser conciso e direto, e às vezes me enredo em coisas mais… Abstratas e difíceis de entender. Em algumas histórias recentes senti que estava tomando um rumo mais barroco, menos claro, me fez sentir como se essas questões de foco e clareza fossem coisas que vêem e vão em ondas, acabam se alternando com outras tentativas narrativas. Mas no fim só os leitores podem dizer se minha impressão, enquanto criador, é a mesma que sentem ao ler o trabalho quando terminado.
“Creio que Pinacoderal é onde a influência da experiência urbana é mais sentida em todo meu trampo”
Ler a Pinacoderal reforçou ainda mais pra mim o peso do ambiente urbano no seu trabalho. Quando conversamos pela primeira vez, lá em 2015, você comentou como esse cenário impulsiona uma maior quantidade de conflitos e amplia as possibilidades de “abordar o ser humano de modo mais tridimensional”. Você pode me falar mais sobre a sua relação com cidades? Você já morou em mais de uma capital, em grandes centros urbanos e outros menores. Qual o impacto dessas vivências no seu trabalho?
Creio que Pinacoderal é onde essa influência da experiência urbana é mais sentida em todo meu trampo. O próprio fato do nome da cidade ser o título pelo qual me refiro à obra já destoa do resto das coisas que faço e frisa que não há um personagem central, mas um organismo composto de vários tipos, mais ou menos similares entre si – como numa cidade. Como menciono no posfácio, Pinacoderal começou enquanto ainda morava na Paraíba, e isso influenciava a história de modo direto. Da mesma forma, quando voltei a morar na minha cidade natal no Rio Grande do Sul, isso também impactou a narrativa – às vezes de modo mais simbólico, às vezes de modo mais direto. Como meu estilo de desenho passa longe do ultra realismo e é repleto de simplificações cartunísticas, os elementos diretamente pinçados de ambientes totalmente disparatados são, digamos, alinhados, assimilados em uma coisa única, que é o mapa do obscuro interior do meu crânio.
Eu acho alguns dos seus trabalhos realmente engraçados – mesmo alguns que não sei se eram pra ser de humor. Ao mesmo tempo, vejo essa sujeira e podridão do ambiente urbano que você retrata e a hostilidade entre os seus personagens, e tudo me soa sombrio e pessimista. Você é pessimista? Como você vê o mundo hoje? Você tem esperanças de melhorias? Como as suas impressões e crenças em relação à realidade impactam os seus trabalhos?
Acho que já respondi isso uma vez: não me considero pessimista e ou otimista, e acho que isso tem a ver com o fato de nunca ter compreendido por completo o conceito de fé. Pra mim já é difícil definir com razoável grau de certeza se as coisas meramente ‘são’, que dirá afirmar se ‘são boas’ ou ‘são ruins’. Acho que minha visão às vezes parece sombria, também, porque tento não ver o ser humano como algo dissociado do reino animal, e isso não é algo que pontua o primeiro plano da discussão quando conversamos sobre sociedade. O reino animal, do ponto de vista humano, é violento. O ser humano é parte do reino animal; logo, o ser humano é violento. O que se espera é que almejemos a pureza e a ordem do divino, e não os impulsos venais das bestas, mas na prática… Mesmo com um suposto apreço pela cultura e pela ordem social, ainda somos movidos pelos mesmos instintos básicos que guiam a lontra ou o sabiá, e que precisam ser constantemente colocados em xeque pela regra da lei para que tenhamos alguma tipo de sociedade funcional. Um animal sofisticado, ok. A maneira como aprendi a me situar diante da vida me levou a prestar atenção nessas minúcias mais brutais da existência como mecanismo de defesa, e a encontrar humor nisso pelo mesmo motivo. Acho.
“O preço de certos álbuns de quadrinhos chegaram a um patamar proibitivo pra mim, e imagino que pra muita gente também”
Aliás, falando em realidade. Em novembro do ano passado eu fiz uma entrevista com você e o João Pinheiro sobre o lançamento da Cavalo de Teta #2. O Bolsonaro tinha acabado de ser eleito e você dizia esperar que “as ameaças de censura que pairam no ar não se confirmem”. Menos de um ano depois quase rolou a censura de um gibi da Marvel na Bienal do Rio. E aí, piorou? Ainda piora mais antes de melhorar?
Pra mim, estava dada a morta de que todas essas merdas iria acontecer. Quem, a partir das eleições de 2018, não mentiu para si mesmo e para aqueles ao seu redor? Por enquanto, parece que ainda estão testando as áreas cinzentas, uma exposição fechada pela câmara de vereadores aqui, um gibi recolhido pela prefeitura ali. Todas essas medidas foram eventualmente derrubadas em instâncias superiores, mas só as tentativas de censura já são o suficiente para deixar claro o rumo das coisas. Todo mundo que faz muito sentido nesse momento soa desesperado, mas por outro lado não é nenhuma opinião controversa dizer isso: é claro que vai piorar. Demos as chaves da casa para um bando de escrotos pseudo-religiosos, pseudo-conservadores, pseudo-liberais, pseudo-íntegros… é de admirar que tenhamos uma pseudo-democracia deliberada por uma cúpula militar?
O que mais te interessa na linguagem dos quadrinhos hoje? O que você mais gosta de ler em quadrinhos? O que você mais gosta de fazer com quadrinhos?
Eu leio de tudo, desde que ache o desenho interessante. E note que interessante não é (necessariamente) ‘bom’. Adoro estudar HQs, qualquer tipo de HQ. Mas como quase sempre tô quebrado, fico restrito ao que ganho de editoras ou troco com autores, mais um ou outro gibi de banca eventual (tipo Pato Donald). O preço de certos álbuns de quadrinhos chegaram a um patamar proibitivo pra mim, e imagino que pra muita gente também. Foi uma discussão constante enquanto definíamos as especificações do Pinacoderal: como manter o preço acessível e ainda assim fazer uma edição caprichada? O único quadrinho extenso (e caro) que li esse ano foi Marcha Para a Morte, que é uma obra-prima do Shigeru Mizuki. Às vezes acontece também de ficar um tempo ser ler muita HQ, focando mais em livros. Tô passando por uma fase forte de Philip K. Dick: li O Homem do Castelo Alto e agora tô na metade de Blade Runner.
“Idealmente, Escória e Pé-de-Cabra se tornariam um tipo de referência, pois o mercado e as grandes editoras estão totalmente fora de sintonia com a produção nacional”
Voltando à primeira pergunta: você comenta no posfácio da Pinacoderal como tentou vender o projeto da coletânea para outras editoras e agora finalmente rolou com a Pé-de-Cabra. Eu vejo cada vez mais a Pé-de-Cabra e a Escória Comix como os selos/editoras mais interessantes da cena autoral de quadrinhos. Acho os filtros do Lobo Ramirez e do Panhoca já os mais atentos e com potencial para serem os mais relevantes em um futuro próximo. Já tendo sido publicado pelos dois selos, como você avalia o trabalho deles? O que você vê de mais singular nos trabalhos feitos pela Pé-de-Cabra e pela Escória?
Acho que essas duas editoras representam um caminho pouco explorado no cenário nacional, e que é um dos que mais me empolga. Essa coisa de acharem autores novos com um trabalho forte e já bem formado, mas que ao mesmo tempo se encaixem na ‘vibe’ do selo, e de tentarem de fato criar um pequeno império com isso, com um cronograma de publicação tão constante quanto possível, com comunicação direta com o público leitor. É emocionante. Vai tão na contramão da maioria das editoras que estão tentando se estabelecer, e ao mesmo tempo é tão próximo dos meus gostos. Só o fato do Lobo ter lançado o Victor Bello para além dos zines provavelmente vai comutar vários anos da pena dele (digo, quando ele finalmente for condenado por todas as falcatruas que fez pra manter a Escória no mercado – e olha que não foram poucas). E o Panhoca tem tipo um tourette editorial: depois da primeira Pé-de-Cabra ele não consegue NÃO PUBLICAR, pode reparar. É uma compulsão, o cara é tipo masturbador compulsivo só que, tipo, sem as implicações sinistras e criminais. Ele me falou que a Pé-de-Cabra 3 já tá começando a ser pensada e tem outros planos na manga. Idealmente, Escória e Pé-de-Cabra se tornariam um tipo de referência, pois o mercado e as grandes editoras estão totalmente fora de sintonia com a produção nacional. Vamos ver.